domingo, 6 de dezembro de 2009

O dia que não é o seguinte


Hoje apresentei um seminário na faculdade sobre um tema um tanto quanto polêmico, mas que até então não havia me dado conta da gravidade das informações distorcidas, das conseqüências e dos prejuízos posteriores a tudo isso.

O seminário em questão falava de “Pílula do dia seguinte” a famosa e tão propagada “pílula abortiva” como é conhecida na sociedade.

Pois então, o que começou com uma pequena pesquisa de campo que teria de pano de fundo um referencial teórico transformou-se num verdadeiro dossiê sobre tudo a cerca do que é contracepção de emergência.

Como gosto muito da origem das coisas e busco sempre fundamentar meus trabalhos acadêmicos mostrando quem é o pai da criança fui buscar na história como isto tudo começou.

Comecei comprando um livro lançado recentemente chamado “A história da anticoncepção” para poder entender certas coisas que não encaixavam. O trabalho terminou com 92 slides, 57 páginas e uma hora e vinte e cinco de apresentação com nosso grupo composto por oito pessoas que se empenharam mesmo em fazer algo bem feito.

Então para começar classificamos que os métodos contraceptivos dividem-se em:

Contracepção ou anticoncepção – método antes do coito.

Intercepção ou contracepção de emergência – método depois do coito

Contragestão – depois do embrião iimplantado (um nome mais bonito para o aborto)

Mas o que interessa disso é realmente a contracepção de emergência.

Por que de emergência?

Por que é utilizada depois de uma relação onde não houve proteção para que não ocorra uma gravidez, como por exemplo, camisinha estourada, esquecimento da pílula, diafragma fora do lugar, descuido mesmo e estupro.

Estupro?

Sim, estupro, na verdade a pílula a principio seria utilizada para estas mulheres que foram agredidas sexualmente dando-lhe uma chance de não gestar um filho indesejado e fruto de uma violência. Ou seja, seria para casos de emergência realmente.

Mas o que aconteceu?

Primeiro a pílula foi lançada no Brasil com o nome da pílula Francesa RU-486 que é um fármaco composto de mifepristone que um antiprogestogenio causador de aborto, esta sim é a pílula abortiva conhecida na França como “pílula do dia seguinte”

Olha o que uma informação trocada pode fazer!

E por que dia seguinte?

Por que o embrião já estará implantado e tanto faz tomar no dia seguinte ou nos próximos dias que o efeito será o mesmo, ou seja, o aborto.
Mas a pílula lançada no nosso país é feita de levonorgestrel, uma progesterona sintética que age em dois momentos do ciclo, o primeiro antes da ovulação onde age impedindo que o óvulo mature, ou quando já ocorreu a ovulação, neste caso ela atuará no espermatozóide impedindo que este chegue até o óvulo, ela usará de diversos recursos desde a modificação do muco da vagina até a diminuição da mobilidade deles.

Quando o encontro do espermatozóide e do óvulo acontece a pílula perde a eficácia, não age sobre a parede do útero com foi tão propagada pela mídia e por alguns muitos profissionais de saúde, esta informação foi colocada pela cartilha do Ministério da Saúde em 2005, onde eles falam claramente que os que condenam a pílula são justamente aqueles que prescrevem progesterona para suas pacientes quando elas estão em risco de aborto. A pílula não age na camada interna do útero (endométrio) impedindo a implantação do zigoto como tanto era propagado.

A progesterona é um hormônio secretado após a ovulação e prepara o útero para o recebimento do zigoto que agora chama-se blastocisto, a pílula é uma progesterona sintética, logo não haverá motivos para acreditar que esta mesma progesterona age na camada do útero impedindo uma implantação.

E a vida começa justamente aí, quando acontece a implantação na parede do útero, antes não é vida pelo simples fato que 60% dos zigotos normalmente não são viáveis e são descartados pelo organismo sem que a mulher perceba isso.

Mas então eu posso fazer uso disso sempre?

Não, de forma alguma, o uso continuo diminui sua eficácia, por tratar-se de um hormônio e em altas doses, duas pílulas equivalem a uma cartela de anticoncepcional por que é necessário para que se altere o ciclo o mais rápido possível, já que esta necessita ser tomada o mais próximo da relação.
Mas o que mais me chamou nisso tudo, foi nossa pesquisa em uma escola onde entrevistamos 170 alunos na faixa de 15 a 17 anos e observamos uma série de desinformações que nos levaram a crer que a situação da educação sexual é bem pior do que se imagina.

Observações de jovens de quinze anos que não conhecem sua própria anatomia, mas sabem tomar uma medicação a qual não conhecem e nem sabem seus riscos.
A pílula virou rotina para aquela noite quente de sexo sem proteção, por que existe um meio de contornar a situação no outro dia e isto não era o objetivo.
Jovens que iniciam sua vida sexual sem informação alguma, a escola não oferece educação sexual, os pais muito menos, nós quando chegamos em algumas escolas fomos barrados por que “estaríamos incentivando a prática do sexo” fiquei indignada com isso!

Nós incentivando? e precisa de maior incentivo do que a televisão? As lan houses cheias de sites pornográficos para quem quiser ver? Os programas de reality show mostrando claramente um jogo de sedução por que é isso que dá audiência? Precisa de mais incentivo?

Interessante, quando alguém chega para tentar pelos amenizar os prejuízos são tratados desta forma, como “incentivadores”
Não estávamos lá para incentivar o uso do medicamento, estávamos lá para mostrar que o uso inadequado traz outras conseqüências e descobrimos muitos falando claramente de sua vida sexual como se fossem gente grande!!

O ministério da saúde distribuiu kit de emergência no carnaval de Olinda em 2008, onde continha um preservativo feminino, um masculino e uma cartela de pílula do dia seguinte, mas não colocou junto a este kit a bula da medicação e nem como usá-la, não explicou que a pilula não protege de DST e nem frisou que o melhor método é realmente a camisinha.

Por que simplesmente o que interessa é reduzir o número de abortos no país, não interessa o que vai acontecer depois, não interessa que a gravidez na adolescência cresce por desinformação, não interessa se o método é usado indiscriminadamente.
Que pena!
Uma solução para tudo isso?

Saúde Pública, que ninguém gosta de fazer por que o método do país ainda é curativista, por mais que se queira fazer prevenção. O curativismo é mais fácil e melhor de trabalhar. Mas neste caso diminuir a taxa de natalidade a custos de bombardeios de hormônios acarretará um prejuízo maior ainda incalculado e ainda não mensurado nas mulheres que o fazem. Educação sexual nas escolas que quase não existe, educação dos pais para falar com seus filhos e saber o que eles andam fazendo fora de casa.

A mulher se libertou das suas amarras que a mantiveram anos sob a custódia do homem, porém se perdeu quando se viu com tantas alternativas para se livrar de uma gestação indesejada. Prefere ser submetida a doses de hormônios todos os meses para agradar seu parceiro que não quer usar preservativo e na qual ela confia cegamente, ela se esquece que da forma que ele não gosta de usar preservativo com ela, também não usará com outra que poderá ter HIV.

E aí?

Começa outra história que ainda não tem fim...

Converse com seu filho adolescente, procure saber o que ele anda fazendo fora de casa, ensine os caminhos, não deixe que os próprios colegas tão leigos quanto eles o ensinem.

Uma boa conversa, esclarecedora, sem opressões e nem fantasias sobre a sexualidade resolvem muita coisa e evitam uma futura gravidez indesejada.

Os rapazes também precisam ser instruídos, isto não é preocupação somente das moças.

A vida foi feita para ser celebrada, desejada, querida e não para ser banalizada, relegada a um plano B.

JANE EYRE

Mãe de um pré-adolescente de 11 anos

Um comentário:

Anônimo disse...

Os falsos moralistas, os fanáticos eligiosos, os "formadores de opiniões", estão sempre querendo enfiar goela abaixo as verdades deles. eles querem que compartilhemos suas verdades, mas não querem compartilhar a nossa

Jaime Marques