quinta-feira, 20 de maio de 2010

Cuidando para a morte

De frente para o crime

Tá lá o corpo
Estendido no chão
Em vez de rosto uma foto
De um gol
Em vez de reza
Uma praga de alguém
E um silêncio
Servindo de amém...

O bar mais perto
Depressa lotou
Malandro junto
Com trabalhador
Um homem subiu
Na mesa do bar
E fez discurso
Prá vereador...

Veio o camelô
Vender!
Anel, cordão
Perfume barato
Baiana
Prá fazer
Pastel
E um bom churrasco
De gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo
Na porta bandeira
E a moçada resolveu
Parar, e então...

Tá lá o corpo
Estendido no chão
Em vez de rosto uma foto
De um gol
Em vez de reza
Uma praga de alguém
E um silêncio
Servindo de amém...

Sem pressa foi cada um
Pro seu lado
Pensando numa mulher
Ou no time
Olhei o corpo no chão
E fechei
Minha janela
De frente pro crime...

Veio o camelô
Vender!
Anel, cordão
Perfume barato
Baiana
Prá fazer
Pastel
E um bom churrasco

De gato
Quatro horas da manhã
Baixou o santo
Na porta bandeira
E a moçada resolveu
Parar, e então...(2x)

Tá lá o corpo
Estendido no chão...

João bosco


Parece que só existe na música, mas é assim que acontece. Quando chego num local onde só resta o corpo estendido no chão.

O cenário se desenha assim, pessoas ao redor que desconhecem aquela alma, pessoas que passam e param para conhecer e ver o último momento de quem nunca viu.

A morte exposta para todos, no chão, no asfalto, as crianças olham e não entendem, as mães deixam as crianças olharem, eu não permito, espanto-as para que não guardem aquela cena tão triste.

Mas o que é mesmo um corpo estendido no chão? É assim como João Bosco tão bem compôs para Dona Flor e seus dois maridos?

O corpo jogado e inerte num chão onde por tantas vezes passou, a face pregada no asfalto, o sangue a escorrer, e a alma daquele ser já muito longe dali, é assim que vejo e sinto, uma vida que se encerra, uma história que se acaba, um ponto final inesperado, um pesar por acabar planos e sonhos transformados em um corpo estendido para um grupo de pessoas verem.

Percebe-se o quão frágil é a vida, quão difícil é entender a natureza humana, o corpo pode estar cravejado de balas, ou perfurado por faca, ou ainda quebrado pelo trauma, certo é que o corpo deformado denuncia e mostra a violência social que nos é imposta todos os dias, morrer em praça pública para todos assistirem em que se transformou o ser humano, este tão unicamente humano.

Aquele ser não teve de dizer adeus aos seus, não teve tempo de terminar seus projetos, não teve tempo de dizer aquela palavra que tanto queria dizer a alguém, vida ceifada sem tempo para nada.

E sigo para minha outra missão, o corpo agora espera um outro serviço, o IML, o carro agora é preto, o meu é vermelho, ele não tem pressa, afinal está morto, como se para a morte não houvesse necessidade de dignidade. Ele chega não há cuidados com a dor, ele não sente, mas não percebe-se que a família sente, a família ainda acredita na dor, no desconforto, na melhor forma de conduzir. Morrer com dignidade, coisa pouco entendida neste meio.

A morte faz parte da vida, é fato, não queremos chegar nesta parte, mas um dia acontecerá. Mortes anunciadas, mortes inesperadas, mortes assustadoras, mortes inexplicáveis, mortes sangrentas, mortes silenciosas, tudo é um fim.

Farei minha monografia baseada nos Cuidados paliativos no paciente terminal ou de doença crônica degenerativa. É um tema doloroso, mas extremamente necessário, cuidar e restabelecer a saúde é um trabalho árduo mas que frutifica, porém, cuidar e preparar para a morte demanda um esforço sobrehumano para o profissional, ele não quer perder para Dona Morte, ele quer ganhar sempre. Mas, neste caso a morte anunciada já diz que um dia chegará e ela está mais próximo do que você imagina, cuidar para que este dia chegue em paz, tanto na forma espiritual quanto física.

Morrer é uma parte do processo pouco explorado e aceito, por que somos preparados para sermos heróis, para salvar sempre, mas a família de quem tem um paciente terminal sofre horrores por não entender que os cuidados paliativos são tão somente para o conforto do paciente, em determinado momento ele se sente tão bem que nem lembra mais do dia final, e isto confunde-se com a cura que não virá, porém demonstra que a morte não anunciada não te dá esta chance.

Ajudar o paciente aceitar a morte e a família a entendê-la faz parte de um trabalho muito meticuloso, é como planejar uma viagem com partida mas sem volta, mas fazer daqueles dias antecedentes a partida, dias maravilhosos, inesquecíveis para quem fica e para quem vai. A enfermagem faz parte deste processo, está mais próxima do paciente, sabe toda a sua evolução, conhece a família, pode sim com certeza ser o porto seguro no momento da partida, mas pode fazer melhor, pode fazer esta partida ser mais bem aceita.

Formarei final de 2012, mas vou começar a trabalhar desde já neste tema, farei uns projetos e quero levar mais adiante como projeto pessoal na minha formação. É um desafio para mim, que sou do resgate, que tenho o ímpeto do heróismo, e a missão de manter vivo o paciente, talvez por isso que tenha escolhido, por ser o outro lado da moeda, por ser na verdade um trabalho digno, mas que poucos se dispõe a fazê-lo.

E você o que faria se soubesse que tem um certo tempo de vida?

A viagem



Eu caminhava na minha estrada,

Trazia muita bagagem e a viagem era longa,

Eu não queria me desfazer de certas coisas que não me serviam mais,

E no caminho a mala pesou,

O caminho ficou tortuoso,

Escureceu,

Fiquei cansada,

Parei para pensar,

Sentei em cima da mala,

E olhava o horizonte tão longe,

Ninguém no caminho para perguntar,

Onde é a próxima estação?

Eu olhava a mala e pensava,

Queria prosseguir mas não tinha forças,

Alguém chegou e se dispôs a me ajudar e disse-me:

- Eu te ajudo mas deixe aí o que você não precisa mais.

Eu abri a mala e joguei fora,

Aquele desilusão da adolescência;

Aquela decepção do amigo querido;

Aqueles aborrecimentos do trabalho;

Aquela promoção que me roubaram;

Aquela tristeza pela morte de meu pai;

Aquele rancor daquela que roubou o namorado que não me amava;

Aquelas mesquinharias do dia a dia;

A dor da separação do pai do filho,

Aquelas futilidades do dia a dia;

Aquele estresse causado pelo excesso de plantões,

Aqueles plantões que eu arranjava para me ocupar por que eu queria fugir de mim.

Depois que abri a mala e despejei tudo no caminho,

Fechei-a e consegui carregá-la,

A pessoa me ajudou a triar as coisas

E agora caminhava ao meu lado por que eu podia carregar a mala

sozinha.

E segui meu caminho, com o cuidado de esvaziar a mala de vez em

quando.


A Depressão faz isso com o paciente.

Todos nós temos nossa mala para carregar e cabe a nós decidir o que levar na viagem para que ela não pese.

A doença não permite que percebamos os sinais e vamos nos

enclausurando e nos fechando como uma pérola em sua concha e não procuramos ajuda.E ela vai evoluindo.

Percebi no dia em que passei uma seringa com a medicação para uma colega fazer por que eu não tinha coragem de administrar a medicação, eu não poderia ter medo de uma coisa que faço há anos, era o pânico chegando.

Nesta época eu mergulhei no trabalho para me livrar de uns problemas pessoais. Trabalhava todo dia e nos fins de semana 36 hs direto, eram plantões meus e outros particulares, queria fugir, isolar-me, sumir do circuito, manter-me ocupada.

Fiz o tratamento e além da depressão havia desenvolvido Síndrome

de Pânico e transtorno de ansiedade, foi difícil,muito difícil, mas só

percebi por que tenho o conhecimento teórico da doença e aceitei a

ajuda, coisas difíceis para o paciente por que ele não percebe e não
aceita por medo, vergonha ou por que não quer sair da situação.

Fiz terapia de grupo, individual, tomei a medicação e aprendi muita

coisa sendo paciente.Principalmente a identificar as pessoas

depressivas.

Hoje sei o valor de uma folga no fim de semana, de escrever o que
gosto, de ficar vagando pela net, de ir ao cinema com o filho e comer pipoca e assistir desenho, de resolver os problemas na sua esfera e não tranferi-las para outras, de descartar o que me faz mal, de ver a vida de outra forma.

Tive alta há cinco anos.Continuo trabalhando muito e estudando muito, mas conheço o momento de parar e quando estou exagerando, sei dosar as coisas.

Esvazie sua mala de vez em quando, não deixe as emoções deixarem sua vida escura, elas são transitórias, não podem ser permanentes.Possuem uma validade e depois são apenas experiências e lembranças.

A vida é bela e só o que se leva são os momentos vividos, que estes sejam os melhores possíveis.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Um crime, um julgamento, Isabela morta




Não sou fã de TV, mas adoro assistir filmes investigativos, que trazem crimes insolúveis e sua trama envolvente. E como briguei com a TV faz um bom tempo pela sua péssima qualidade de conteúdo, esta semana fiquei feliz por ver as pessoas comentarem algo diferente do capitulo da novela ou da ultima pegada no Big Brother e de uma Fazenda que tem não sei em que canal.
E assim o Brasil finalmente parou para assistir a uma coisa útil: o Julgamento dos Nardoni.
Depois de tanto final de novela e de Big Brother, brasileiros e brasileiras se prontificaram por horas e horas a assistir um verdadeiro espetáculo de inteligência da pericia deste país tão desacreditado, desta lei tão direcionada aos desfavorecidos socialmente, deste código penal tão injusto com quem é vítima de um crime.
Comentários ouvi e li aos montes, inclusive por quem é da área jurídica e muito me surpreendeu constatar que existem advogados revoltados contra o resultado, revoltados contra provas técnicas vindas da habilidade de quem não precisa de palavras para dizer o que aconteceu, a arte de saber contar a história sem estar presente.
E nesta linha de pensamento nós brasileiros expectadores de tanta coisa bárbara nesta nação ficamos surpresos, maravilhados e boquiabertos por um trabalho que parecia filme de Hollywood, afinal, nos acostumamos a ver tudo acabar em pizza, a ver bandido ganhar status de estrela.Vivemos enfim numa inversão de valores que até virou simbolismo.Neste país tudo é posto em cheque, o que é para ser regra torna-se exceção e a exceção de tanto ser concedida a ela um lugarzinho, uma cota ou algo parecido acaba por tornar-se regra também. E aí você vê o assassino ter alguém que o defenda ou pelo menos tente minimizar a desgraça que ele fez com o seu semelhante.
Os Nardoni, em especial o pai que era advogado, esqueceu no seu momento de ira contra a criança que o corpo fala, as pistas mostram o caminho e alguém muito capacitado junta as peças do quebra-cabeça e chega em alguém.
É óbvio que Isabela era agredida bem antes disso. A violência doméstica contra a criança e contra a mulher começa pequeno. Um empurrão, um tapa, um murro, uma surra de cinturão, uma esganadura e por fim a morte. Violência que se alterna com momentos de carinho e atenção, se uma mulher vitima de violência não consegue se livrar da situação imagine uma criança que nesta idade não tem nem formação de juízo.
Por outro lado a criação dada pelos pais de Alexandre Nardoni provou que a forma como você cria seus filhos diz muito do que você é. Filho de classe média alta, advogado que não exercia a função, casado com uma pessoa desequilibrada e pai de mais dois filhos, Alexandre não tinha o discernimento de se impor e não aceitar as agressões da esposa, não aprendeu a ter amor e respeito pelo seu laço de sangue, não aprendeu a amar seu semelhante, ou melhor, seu descendente, vivia numa relação destrutiva e destruiu várias vidas.
Pior do que um crime contra Isabela, Nardoni atentou contra a sociedade, contra toda uma constituição que diz não podermos ser vitima de abusos, torturas, agressões, que temos o direito de livre defesa, atentou contra a vida de um inocente sem chance de defesa, seu sangue, menor de 14 anos e sua filha. Faltastes esta aula Nardoni?
Não aprendeu a ser gente, ser pai, ser cidadão, ser chefe de família. No momento que chegou próximo ao corpo da filha, ligou para o pai ao invés de ligar para o resgate, lembrou que o pai resolvia todos os seus problemas desde que era criança, como se o acontecido fosse uma briguinha na escola a que ele recorria ao papai e este ia resolver coisas que crianças resolvem entre si para quando crescerem aprenderem a ter autonomia. Quando você diz “Meu filho você errou, assuma seu erro e não faça mais” você não está deixando de apoiá-lo, mas sim educando-o e provando que na vida a gente erra, mas se redimir e tentar consertar o erro é muito mais importante do que tentar encobrir.
As palavras são meros instrumentos muita das vezes desnecessários, os olhos falam, as expressões corporais entregam o seu sentimento, na primeira entrevista logo após a morte da criança, ficou bem claro para mim que trabalho vendo a emoção da perda todos os dias que eles eram culpados. Em momento algum houve revolta por quem cometeu o crime, o choro forçado, com lágrimas arrancadas mostraram toda a frieza que estas duas criaturas possuíam ali na frente de uma câmera para milhões de pessoas assistirem uma tentativa desesperadora de se dizer inocente, de dizer a toda uma nação que não eram monstros, poxa Nardoni, na sua disciplina de Psicologia você não aprendeu que os olhos desmentem as palavras?
A perícia, deu seu show a parte e veja que interessante, todos os profissionais envolvidos desde a delegacia que iniciou o processo eram unânimes em mostrar que eles eram culpados, a perita foi enfática e firme diante das provas e do que conseguiu montar, uma mulher admirável que está completando 30 anos de carreira e que se empenhou passo a passo, por que com certeza como toda boa brasileira não admite este tipo de crime, crime contra a infância, contra estes serezinhos que possuem um Estatuto e são protegidos por nós adultos e seus genitores. Conheces Nardoni o Estatuto da criança? Você achava que nossa perícia ainda era do terceiro mundo? Será que todo estes profissionais acostumados a trabalhar com crimes se enganaram?
Lamentavelmente seus filhos que ficaram quase órfãos também estão sofrendo por toda esse bombardeio, serão discriminados em todos os lugares, terão a ausência dos pais, porém, não perderão muita coisa em não ter a educação dada por eles apesar de que não escaparão de serem criados por quem os criou, seus avós. Imagina Nardoni no dia que seus filhos perguntarem
“Papai, é verdade que você jogou minha irmãzinha pela janela por que a mamãe se aborreceu com ela?”
ou se um deles lembrar do que aconteceu lá dentro daquele apartamento?
Nesta hora estará na mente da criança a sua imagem sendo jogada pela janela após uma traquinagem.
Jatobá representou milhares de mulheres que encontram um companheiro que já é pai e passa a disputar seu “homem” com a criança. Disputa de atenção, ciúmes da ex, vivem numa loucura interna de concorrer com uma criança que nem percebem o quanto isso é doentio e sem fundamentos, e seus companheiros não percebem que o amor pelo filho está sendo negligenciado e entram nesta barca furada de viver com uma pessoa insana, colocando seu filho, seu sangue em segundo lugar, mesmo por que normalmente possuem o mesmo perfil psicológico.
Revoltante é pouco, a pena é pouca, a tristeza é muita diante tanta barbárie, mas estarrecedor mesmo é vê-los sem confessar, essa é a prova de que são pessoas perigosas, medíocres, imaturas que num impasse apelam para a violência, precisam sim, ficar longe da sociedade e para quem defender dizendo que eles têm filhos para cuidar fica a resposta de que as crianças fazem parte da sociedade também e que estas precisam mais do que nunca ficar longe deles, afinal podem ser jogadas pela janela a qualquer momento.
Uma luzinha no fim do túnel se acendeu, mesmo que daqui a dez anos estejam nas ruas soltos e com a ficha limpa assim como aconteceu com os assassinos de Daniela Perez, uma coisa mudou desta vez, o povo se revoltou, mostrou que não aceita, que tem voz ativa, que este povo é o que trabalha, que batalha para criar seus filhos, que sofre a discriminação de ser pobre mas que dá lições de honestidade e de amor para os que coloca no mundo. Desta vez mesmo sem testemunhas o bom senso, a lógica prevaleceu, coisas de primeiro mundo, existem seres pensantes neste país viu Nardoni?
Se todos denunciassem quando descobrissem uma violência infantil, as coisas mudariam mais rápido. Existe um Estatuto, existe Conselho Tutelar, existe Juizado de Menores, para proteger nossas crianças. Somos seres racionais, não aprendemos por instintos, violência não ensina, deseduca. Amor, carinho, compreensão, educação são os verdadeiros ingredientes para se criar um cidadão de bem, humano, honesto, íntegro e correto.
Você terá 10 anos ou menos Nardoni para refletir e refazer sua faculdade, você não fracassou só como pai e cidadão, fracassou como profissional, envergonhou sua classe, alguns te defendem mas sabem no fundo a verdade, ela está aí para quem quiser ver com olhos atentos e lógicos.
Quando a criança é concebida com amor, quando o papel de pai e de mãe é feito na integra, como dever ser, Izabela nenhuma é jogada pela janela ou agredida pela madrasta.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Resgate - de volta à estrada



Resgate.

Recuperar, trazer de volta, recolher vitimas.

Estas são algumas das muitas definições da palavra Resgate, porém resgatar no pré-hospitalar é muito mais do que isso.

No meu conceito a melhor sensação que já senti foi a de salvar a vida de alguém. Não existe paixão, não existe alegria, não existe emoção que supere este sentimento de solidariedade e de dever cumprido.

O mundo teve a oportunidade de assistir o resgate de milhares de pessoas todos os dias agora com a tragédia no Haiti. Um trabalho muito bonito de todos os profissionais de lá e os que foram de outros países. Você consegue imaginar a sensação destes bombeiros ao ver o sorriso deste garotinho da foto?

Não, eu tenho certeza que ninguém conseguiria mensurar o que este sorriso significa para alguém que resgata.

O resgate é um trabalho árduo, de persistência, de paixão e em especial para os bombeiros, nosso bravos guerreiros, pessoas extremamente especiais, dotadas de sentimentos além de toda a sua bagagem de experiência de sucesso e de fracasso .Seres que possuem fibra, garra e esperança em cada missão.

Conviver com o fio da vida nos mostra o quão importante é viver de forma digna e precisa sem se preocupar com as futilidades do dia a dia. Viver é exercício de um dia após o outro, a vida se acaba em poucos segundos. Uma hora estamos aqui conversando e no próximo minuto o teto pode desabar sobre nossas cabeças e tudo se acaba, sem aviso prévio ou amenizações. Vivemos um filme, que não sabemos qual será a próxima cena.

Já vivi muitas histórias dessa natureza, claro que não tenho experiência com terremotos mas no cotidiano há dias que parece estarmos vivendo um, dias em que a cidade parece que treme e em poucos minutos estão todas as ambulâncias na rua salvando alguém seja de acidentes, seja de ferimentos diversos ou ainda clínicos. O clima parece que pesa de repente e vemos o dia amanhecer de uma hora para a outra, noites em que entramos no escuro no hospital e saímos com o sol a nos receber.

Já recebi abraços sangrentos da vitima que se desespera e se agarra na gente, já trabalhei sobre pressão ajoelhada no meio da rua fazendo meu serviço sob os gritos de protesto de um monte de gente que queria que eu jogasse o paciente dentro da ambulância e fosse embora, já entrei em lugares perigosos, pequenos, altos, baixos, carros capotados, lugares escuros, penitenciária em rebelião, linchamento de estuprador, briga de gang mas tudo mensurado numa escala de segurança que a gente não sabe como criou para nós mesmos

Em 2001 tive uma experiência que marcou bastante e por muito tempo eu relembrei aqueles momentos tão difíceis.

Fui chamada de dia por volta das oito horas da manhã para uma ocorrência obstétrica, era um aborto, pela idade percebia-se ser uma pessoa com mais de um filho, já que contava com 39 anos na época. O local era longe, de difícil acesso e comunicação, levávamos mais ou menos 25 minutos correndo para chegar lá.

Chegando no local, estacionamos e fomos recebidos por um grupo de pessoas dizendo que ela já havia falecido. O local era mais acidentado do que eu imaginara, tínhamos que descer um pequeno morro e entrar por um ramal que não passava carro para chegarmos então a casa da pessoa. Peguei meu material todo e fomos, afinal eu não havia visto a vitima, logo não poderia descartar a hipótese de salvá-la.

Ao chegar na casa encontrei a senhora deitada na cama com vários de seus filhos ao redor chorando e um me olhou tão penoso e disse:

- Minha mãe morreu moça!

Mas ao olhar a paciente percebi que ela não estava morta. Verifiquei seu pulso estava taquicárdico (rápido), a respiração superficial, porém presente, hipotensa (pressão baixa), pele fria, pálida e sudoreica, não respondia a estímulos verbais mas sim aos dolorosos, todos estes sinais são de choque hipovolêmico (grande perda de volume sangüíneo) no caso dela pelo aborto.

Pedi que se afastassem por que a mamãe não estava morta e sim dormindo, imagina a alegria da garotada!

Coloquei oxigênio, fiz um acesso venoso e comecei a passar o soro rápido, elevei as pernas com travesseiros e começamos a preparar a prancha para deslocá-la do lugar. Claro que não foi fácil levá-la até a ambulância, mas com ajuda dos vizinhos chegamos lá.

No carro pedi que o motorista corresse por que estávamos correndo contra o tempo, ela havia sangrado a noite toda, não sabia a quantidade, porém percebia-se ser um volume considerado. Não tínhamos comunicação neste ponto, a freqüência não funcionava por ser muito longe e cheio de mata, nessa época também não tínhamos médicos, nosso programa ainda não era o SAMU, e sim o SOS, a enfermagem tomava conta da cidade antes do SAMU chegar.

E assim fizemos nosso percurso de 25 minutos de volta correndo. Esquecemos do medo nesta hora, mas corremos com cautela e muito cuidado nos cruzamentos, afinal sirene não pára carro.

No caminho ela já abria os olhos e comecei a fazer-lhe perguntas para observar o nível de consciência, o soro aberto, já estava na terceira fase. O marido estava junto, nervoso, aflito, mas contente por vê-la viva.

Eu pedia que ela olhasse para ele e perguntava “Quem é este homem?”

Ela balançava a cabeça respondendo não saber. Estava em confusão mental pela perda de volume, e assim fomos seguindo, a cor pálida foi amenizando e a sudorese diminuindo, o pulso foi estabilizando também, e a pressão subiu um pouco. Na porta da maternidade fiz a mesma pergunta “Quem é este homem?””

Ela respondeu “Meu marido!” com muita dificuldade para falar.

Nunca pensei que uma frase tão simples me fizesse tão feliz!

Entramos no hospital e fomos direto para o centro cirúrgico, passei para o médico o caso, recolhemos nosso material e saímos.

Na saída o marido nos chamou e nos agradeceu por ter salvado a mãe de seus dez filhos, estava muito emocionado por que até ela não falar ele achava que não havia mais chances.

Passei o dia pensando na alegria daquelas crianças ao receber a mãe de volta na humildade de sua casinha, na sua felicidade de ter a vida, tão única sendo salva por alguém que nunca viu e talvez nunca mais verá, mais que ama este risco de salvar pessoas, que gosta de chegar no momento critico para resolver, que gosta de ver a esperança renovada no olhar dos familiares.

Eu defino a vida como uma viagem que não sabemos onde vamos descer, mas que algumas vezes descendo alguém nos coloca de volta na estrada.

sábado, 23 de janeiro de 2010


Câncer

Nos acordes do interno e mais intimo,

Ouvem-se as palavras de comando , de revolta

O cenário?

O corpo morrendo,

Um grupo de células revolta-se contra seu hospedeiro em protesto,

Começo de uma guerra gerada por outros motivos,

Os gases do progresso,

Os resíduos de um avanço tecnológico,

Os raios a nos atingirem, gama, ultra-violeta, ionizantes

A fumaça do monóxido de carbono, do cigarro, das fábricas

A invadir o DNA, quebram e mudam moléculas de lugar

Mutando-se,

Transformando-se,

Deformando-se,

Monstruando-se,

Tornam-se imortais,

É uma guerra de células,soldados revoltados, irados

Despertados pelo próprio homem,

O que poderia ser fisiológico, de repetição

Torna-se comum a cada dia e maléfico,

É o preço,

Do carro confortável,

Do ar-condicionado,

Do fast-food,

Da praticidade do cotidiano,

Do brilho dos alimentos, da textura, da conservação

Do vício desenfreado,

Da preguiça desfrutada.

Da promiscuidade sem proteção,

Quero um raio-x!

Quero um bombardeio de radiação a toa,

Por que não sei o quanto vai me fazer mal,

Por que como com os olhos então quero alimentos brilhantes

Porém cheios de corantes e conservantes,

Por que não sei que meu refrigerante com batata frita não pode ser regra,

Por que não sei que fui feita para menstruar, gestar, parir, amamentar

Por que jogo um monte de hormônio para dentro de mim todo mês

Por que é mais cômodo do que usar um preservativo,

Não quero ser mãe por que minha barriga vai esticar e meu peito vai cair,

Mas não sei que meus seios estão esperando pra trabalhar e meu útero está esperando
alguém para abrigar,

Não sei que coopero com uma guerra contra mim mesma,

Mas não me dizem, por que tem muito lucro em volta disso

E não vou atrapalhar os negócios de alguém,

Quero um drink, álcool com energizante

Para curar minha depressão,

Pra me auto afirmar,

Por que não sei amar de cara limpa,

Preciso das máscaras para me esconder de mim mesmo,

E vou seguindo com minha guerra interna,

Que se seguirá por dias de dor e desespero,

O câncer do mundo,

Feito pelas mãos do homem, produzido pelas mãos do homem.

No ano de 2020 seis milhões de pessoas morrerão de câncer em todo o planeta, saia dessa guerra hoje:

Jogue fora seu cigarro;

Troque seu drink por um suco de fruta antioxidante;

Faça uma caminhada diária em lugar arborizado e não na rua;

Raio-x somente em último caso;

Largue o anticoncepcional, use preservativo, é saudável, não tem contra-indicação e previne doenças sexualmente transmissíveis como a HPV;

Coma alimentos naturais, muitas verduras e frutas de preferência sem muito brilho e tamanho exagerados;

Largue as gorduras e frituras de lanchonetes elas contêm gordura trans uma bomba relógio para o organismo;

Dê atenção àquele sinalzinho que começou a crescer de uma hora para outra;

Ficar afônico (rouco) várias vezes não é normal, procure um otorrinolaringologista;

Toque seus seios todos os meses em busca de algum caroço dez dias depois do primeiro dia da menstruação, se não menstruar mais, escolha um dia fixo do mês para fazer isso.

Faça exame preventivo anual para detectar possível câncer de útero;

Fique atenta a qualquer secreção vaginal diferente daquela do dia fértil;

Faça o exame de próstata no tempo estipulado, para detectar possíveis alterações;

Tenha filhos, é fisiológico e necessário, ser mãe é maravilhoso;

Amamente, seus seios foram feitos para isso e não para sua vaidade pessoal, e a lei da gravidade é imperdoável, um dia cairão;

Cure suas infecções elas abrem portas para o câncer através de suas toxinas;

Não menospreze a gastrite (ela não é normal), pode transformar-se em câncer gástrico;

Proteja-se contra o sol, filtro solar sempre. O câncer de pele é o campeão de incidência no nosso pais tropical;

Trate a depressão, ela baixa a imunidade e deixa você vulnerável às infecções;

Ajuste a sua prótese dentária, ela não pode machucar a gengiva;

Não use a cólera para resolver seus problemas, relaxe, respire, se não resolver hoje, deite e durma, amanha será outro dia;

Nunca diga “Minha gastrite, minha hérnia de disco, minha osteoporose, minha sinusite, minha pedra na vesícula” nada disso é seu, é temporário e em breve sumirá do seu corpo;

Ame muito, os filhos, a vida, o planeta, os animais, a vida;

Sorria sempre que puder, faça piada das coisas ruins, o bom humor enche o corpo de endorfinas e combate os radicais livres;

Evite ambientes poluídos, cheio de fumaça;

Cerca de 10% somente dos cânceres são hereditários, o restante é fruto da interação com o meio ambiente.

Não irrite suas células.

Viva a vida, não declare uma guerra dentro de você.

Educar para não violar



Antes de planejar o que fazer,de tão igual importância é o observar.

Planejar requer:observar, tornar viável o planejamento, perceber o que está em andamento e muito, mais muito importante ter uma revisão de tudo isso em tempo determinado e alternativas para mudar o que não está dando certo, o famoso”plano b” e seus ajustes.

Mas quando fala-se em Estado, política e destino de um povo a coisa fica travada em algum lugar. Interesses políticos, pessoais, pretensões despontam no caminho e no cenário da coisa a ser feita.

Violência urbana é fruto de uma série de coisas e não somente de falta de oportunidades ou falta de instrução.

Vejo quase que diariamente quando estou trabalhando, a negligência com quem são tratadas muitas crianças. Parece que nem existe Juizado de menores, Conselho Tutelar, Estatuto da criança e por aí vai. Por que escolhi as crianças para falar? por que é na infância que tudo começa, é no pequenino que se molda o grande.

Sendo assim, diga qual o futuro de uma criança que está na rua com os pais as 23, zero hora? seja no barzinho, seja na parada de ônibus, seja na igreja. O conforto e a necessidade de dormir pelo menos dez horas por dia vão por águas abaixo, a falta de alimentação adequada por que se está na rua também vai no bolo, e o perigo a quem estão expostas então nem se fala!

Que futuro terá uma criança que apanha todo dia? e o vizinho não denuncia por que tem medo, mas existe estatuto, leis e todo um aparato em favor da infância.

Que futuro terá uma criança que amanhece e anoitece na rua soltando papagaio pela simples alegação que “criança tem que brincar na rua, senão não aprende as malícias da vida”?

Que futuro terá a criança que vai para a escola somente por que é lá que ela vai fazer a sua primeira refeição?

Que futuro terá um filho de uma família de doze, quinze irmãos numa zona que mais possui casinhas da Estratégia Saúde da Familia com planejamento familiar em seus programas, mas a mãe recusa por que “é vontade de Deus ter aquele monte de filhos” que certamente passarão fome.

Olhando pelo outro lado, por que não é só filho de pobre que vira marginal, já ouvi na escola do meu filho a seguinte frase:

“Você vai ficar de castigo, vai viajar para Fortaleza em vez de ir para Miami!”

Hum hum, ah um castigo desses no meu tempo de criança!!

Que valor moral terá esta criança quando crescer?

Que valor ela dará ao dinheiro do pai e da mãe ? Quando a sua obrigação de estudar e passar de ano e que nada mais é que sua obrigação é negociada com barganhas?


Percebe-se então que muito do que se vê na violência é fruto sim da
irresponsabilidade dos pais e da falta da cobrança em cima deles. Como se o filho fosse sua propriedade, sem ter que dar satisfação a ninguém, e pode criá-lo a sua maneira, ou na rua o dia todo para não ser “otário”ou barganhando com dinheiro para que ele consiga pelo menos aprender a gastar o que você vai deixar de bandeja e mão beijada para ele.

Você pode pensar em mil soluções para a violência, para a educação, para a saúde, mas não pode esquecer que a família é o ínicio de tudo e entrar na família não é coisa fácil. Pergunte a qualquer profissional de Saúde Pública se é fácil mudar os maus hábitos de uma casa em prol do bem estar dos que ali vivem.

O planejamento seja este feito anualmente ou em decênios sempre esbarrará na instituição família. Pois o jovem pode passar o dia na escola, mas voltará a noite e o fim de semana para casa, onde encontrará a disparidade do que aprendeu.

Educar a família?

Sim, este é o grande desafio de qualquer governo em qualquer parte deste planeta.

A fórmula todos estão atrás, ainda.

Zilda Arns - Isto sim, é Saúde Pública


Depois do fatidico acontecido com nossa médica brasileira Zilda Arns, resolvi escrever depois de vários dias passados o que esta cidadã representou no cenário Saúde Pública.

Começo reafirmando como sempre que fazer Saúde Pública não é tarefa fácil. Entrar no cotidiano das pessoas com seus costumes e tradições e tentar mudá-los leva tempo e paciência, mesmo por que existem certas coisas que não mudam, mas que podemos adequá-las a uma visão mais moderna.

Andar no sol e na chuva, bater de porta em porta, se encaixar na comunidade, aprender seu dialeto e costumes da região, perceber onde interceptar, ter sensibilidade para ouvir mais do que falar, isso tudo são atribuições de quem faz Saúde Pública.

O que Zilda representou com certeza muitos programas não o conseguiram, tendo todos os recursos disponíveis. Ela foi sábia, começou pela igreja por sugestão do então Dom Paulo. A igreja, local de reunião da maioria das pessoas e detentora de enorme influência sobre a população de todas as classes, foi o local escolhido para diminuir a mortalidade infantil, assim nasceu a Pastoral da criança em 1983 no Paraná.

Feito no mesmo estilo dos programas de saúde pública, que leva a informação pessoa a pessoa através de multiplicadores encontrados na comunidade, o soro caseiro foi difundido nas famílias para as mães e que estas pudessem salvar seus filhos de uma desidratação causada por diarréia.

Pessoalmente digo que é um trabalho guerreiro, mais difícil do que entrar em um carro capotado para imobilizar um paciente.

Ensinar a mãe a cuidar de seu filho e fazê-la entender a importância disso, minimizar as crendices que causam prejuízos e diminuir números de mortalidade é uma obra edificante, mas que requer todo o empenho de uma equipe. E Zilma conseguiu em sua primeira empreitada na pequena Florestópolis, Paraná baixar a taxa de 127 óbitos em cada 1000 crianças nascidas vivas para 28. Um número que enche de orgulho qualquer profissional de saúde. Hoje o programa é nacional e reconhecido em vinte países da América Latina, África e Ásia.Ela própria visitou cada canto deste país de avião, de barco e de ônibus para levar a informação a população,enfrentando todas as dificuldades que nós do Pré-hospitalar somos acostumados a ver todos os dias quando entramos na casa de alguém.

O soro caseiro nesta época difundido entre as comunidades e hoje mundialmente conhecido é uma medida barata, fácil de fazer e que restabelece a criança até um socorro mais adequado num hospital. Coisas que pensamos ser tão fáceis e úteis mas que passam despercebidas por milhares de pessoas. Assim como o tratamento da água, a importância da vacinação e medidas básicas de higiene.
Desidratação pode matar em pouco tempo(24 h). Dois, três episódios de vômito são suficientes para instalar o quadro. A perda de liquido na criança é sintoma importante, elas possuem 25% a mais de volume sanguíneo e quando se fala que uma criança está chocada (perda de volume) ela já está chocada há muito tempo, quadro difícil de reverter, porém fácil de evitar quando se toma medidas rápidas como o soro caseiro.

Outro foco da Médica pediatra e sanitarista Zilda Arns foi a nutrição também. Afinal nutrição e hidratação são os pilares da vida. A multimistura então desenvolvida por folhas e grãos complementa a alimentação de quem tem poucos recursos e não consegue comprar todos os alimentos que fazem parte da pirâmide alimentar. Mesmo sem precisar introduzi a multimistura na alimentação de meu filho, por que eu confio no trabalho deles.

Aqui em minha cidade, a Pastoral desenvolve um trabalho lindo. Além da multimistura e do soro caseiro temos a farmácia natural. Medicamentos feitos a partir de ervas de eficiência comprovada que ajudam a cura de doenças simples, sem desmerecer a indústria farmacêutica.

Medidas simples, baratas e que salvam vidas. Aliadas as medidas profiláticas como tratamento da água para combater verminoses, tratamento do esgoto, meio ambiente, destino do lixo, objetivos principais da Saúde Pública, bom e barato, fácil e acessível, porém de pouco valor para o sistema que insiste em investir no curativismo, na reabilitação.

Trabalhos como o da Zilda, orientações como o aleitamento materno e importância da alimentação infantil fazem a infância no país ser muito mais saudável em todos os aspectos.

Zilda morreu fazendo o que gostava, ajudar os que precisam e levar a coisa mais preciosa que podemos dar a alguém: a informação e os caminhos para evitar males maiores a saúde.

Obrigada Zilda, sua vida foi pautada em muito mais do que a caridade, você fez como médica o que poucos conseguiram fazer em tempos modernos, uma verdadeira Osvaldo Cruz de nossos tempos. A Enfermagem te agradece, nós que carregamos esta bandeira há anos de fazer prevenção num pais curativista sabemos o valor que o seu trabalho deixou. Você salvou milhares de vidas inocentes, descansa em paz.

Minha admiração a todos que fazem este trabalho maravilhoso e de muito amor e dedicação que é levar a informação no corpo a corpo com a população, sou do pré-hospitalar(SAMU), salvo vidas, vejo tragédias diariamente, entro embaixo de carros capotados, subo morros, desço barrancos, na chuva e no sol, mas rendo-me ao trabalho edificante destes profissionais comprometidos com o bem do próximo.

Isto sim, é Saúde Pública.